quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Mais uma reflexão...

Circulam aí umas vozes de uns supostos iluminados que consideram que devemos baixar os salários para conseguirmos ser mais competitivos.
Este tipo de afirmações mostra bem a mentalidade que se vive em Portugal.
Se tivéssemos pessoas que soubessem governar e gerir o país iriam procurar soluções que criem valor para o país, em vez disso pretendem que concorramos pelo preço.
Meus senhores, é impossível concorrer com países como a China que tem milhões de pessoas, trabalho escravo e infantil e com ordenados miseráveis.
É isso que querem para o nosso país? É isso que consideram evolução económica????
Nós temos todas as potencialidades para concorrermos pela qualidade e não pelo preço.
Vejamos soluções: turismo e energia.
Devíamos apostar verdadeiramente nas energias renováveis. Poderíamos ganhar imenso com isso.
Passaríamos a ser menos dependentes da energia externa, pouparíamos o nosso ambiente e ainda vendíamos a energia a outros países. A energia renovável será o petróleo do século XXI. Se nós temos ondas, sol e vento não deveríamos rentabilizar estas características ao máximo????

Se há sector pelo qual somos conhecidos internacionalmente é o turismo. Mais uma vez porque temos um país muito rico em cultura, gastronomia, paisagens, etc. que faz com que valha a pena visitar Portugal.
Como isso é divulgado? Campanha West Coast- do pior que já vi fazer.
Além de que um turismo é um serviço e, como tal não pode ser fabricado. Para termos um serviço de qualidade, as pessoas são um elemento fundamental do mesmo. Temos de ter as melhores pessoas com a melhor formação a atender os nossos turistas.E aí mais uma vez volto ao serviço do valor acrescentado.
Se tivermos um serviço de valor acrescentado teremos mais lucro e também poderemos ter pessoal mais qualificado e melhor a trabalhar connosco.
Não se iludam. As pessoas até podem ser qualificadas mas não se vão esforçar por pouco mais que o ordenado mínimo.
Daqui resulta a vaga de emigração tão noticiada. Não há registo de um fluxo emigratório tão grande em Portugal desde os anos 60, com a diferença que os emigrantes agora são altamente qualificados e, ao não encontrarem condições salariais e outras que se adeqúem à sua formação, vão procurá-las noutro país e com toda a razão. Portugal deixa assim sair os seus cérebros alegremente...
Para tudo isto funcionar tem de haver mudança de mentalidades.
Eu vejo diariamente pessoas que cospem no chão, deitam lixo no chão, não dão prioridade a uma grávida ou deficiente num transporte público...
Que tipo de imagem é que isto nos dá para quem nos visita?
Não me surpreende que algumas pessoas lá fora nos olhem como países de terceiro mundo. A nossa mentalidade é, por isso é que os outros nos olham como tal.
Exemplo práticos do que digo:
Em Portugal existe aquela ilusão de que um carro da marca XPTO traz status. Na realidade só traz poluição, mas isso não é relevante porque na realidade o que importa é parecer.

Em países verdadeiramente evoluídos a classe política anda de transportes públicos (que doidos!) ou em carros pequenos que consomem pouco.
Em Portugal muda o governo, muda a frota, todo e qualquer presidente de câmara dispõe de um carro de gama elevada e motorista. Quem paga a factura destas atrocidades? Pessoas comuns como eu, que paga impostos elevados face a um salário não elevado.
Eu poderia indicar mais mil e uma formas de desperdício de dinheiros públicos em Portugal, mas não disponho de tempo.

Se Portugal pensasse em sermos eficientes a todos os níveis poderíamos ser um país rico e feliz.
Temos todas as ferramentas, só falta utilizá-las.




6 comentários:

Manuela Araújo disse...

Olá Ana
Eu também considero o reduzir salários uma visão muito errada da economia. A não ser que reduzir salários implicasse redução de tempo de trabalho, e assim maior distribuição de emprego. Mas isso é outra conversa.
E Portugal tem maus costumes, mas tem boa massa cinzenta, não está é aproveitada, ou emigra.
As renováveis são uma boa oportunidade, o turismo continua a ser, mas há muito mais hipóteses. Temos terrenos bons para a agricultura. Temos óptimo clima (ainda). Temos capacidade inventiva, que se devia virar mais para o importante e para a criação do que para o desenrascanço. Temos capacidade de trabalho, mas temos de o aproveitar com eficiência. Temos nichos de mercado "gourmet" (como diz o colega da blogosfera Eduardo Miguel Pereira do chegateaqui, que são um sucesso.
Temos muita coisa, mas falta algo de essencial - políticas correctas e mudança de mentalidade.
Há muito desperdício mesmo, como diz: temos ferramentas, temos matéria prima, por favor, tirem-lhes os grilhos!
Um abraço

Ana disse...

Olá Manuela,
Concordo plenamente.Nós temos imensas potencialidades.As que referi são apenas aquelas que me surgiram no momento em que escrevia, porque de facto existem muitas mais.
Basta querermos.
Falta-nos rumo,falta quem nos lidere na direcção correcta, porque de resto temos tudo.
Toca a pegar nas ferramentas!!!

Abraço,
Ana

Guakjas disse...

Olá Ana

Excelente texto!
Foi um tiro no alvo que acertou mesmo lá no meio!

Precisamos de baixar salários para ganhar competitividade? Não! Tenho uma ideia bem melhor: e que tal incentivar as pessoas no trabalho? Trabalhar por objectivos é a solução! Por exemplo: "se produzirmos mais obra este mês vocês serão beneficiados..." Mais produção- mais dinheiro- mais entusiasmo. Uma simples coisa...

Obrigado pelo reflexão excelente

Beijinhos

Manuela Araújo disse...

Olá Ana
Para uma amiga poderosa, tem um selo para si lá no blogue Sustentabilidade É Acção.
Beijinhos

Ana disse...

Olá João!
Obrigada pelo comentário.
Há dias em que fico frustrada com o que vejo à minha volta e então descarrego aqui.

Sim, precisa-se entusiasmo e na minha opinião menor fosso de salários.
Recentemente li um estudo sobre algumas empresas que mostrava que a diferença entre a pessoa que ganhava mais e a que ganhava menos chegava a 40000€.
Façam as contas a quem ganha menos e quem ganha mais.
Talvez seja por isso que existem organizações como alguns bancos que vão à falência...

Agora está na moda dizer que o capital mais valioso de uma empresa é o capital humano.
E de facto é. Mas será que a maioria das empresas o trata como tal?
E o nosso governo, trata o seus cidadãos como o capital mais valioso que tem?
Não são as pessoas o capital mais valioso de um país também?

Beijokas
Ana

Guakjas disse...

"..que mostrava que a diferença entre a pessoa que ganhava mais e a que ganhava menos chegava a 40000€"

Isto é muito preocupante!!! 40000€?

Fonix!
Isso é demais!
O fosso salarial é enorme!

Tens razão, numa altura em que se fala em formar as pessoas e potencia-las com formação de qualidade, as coisas não são bem assim... Infelizmente...
É como digo, só se pensa em lucros a curto prazo... É o mal do capitalismo...

Beijos